quinta-feira, 12 de março de 2015

Sobre um casal ser expulso por demonstração de amor

"Bom dia, pessoal!

Este é um pedido oficial de desculpas. A todos aqueles que acreditam que o amor é que nem sorvete: tem de todos os tipos, todos os gostos e de todas as cores.

Ontem a intolerância falou mais alto na nossa lojinha tão amorosa e querida. Infelizmente.

Um cliente e seu namorado foram expulsos de nosso estabelecimento devido a atitude isolada e sem autorização superior de um de nossos funcionários que havia recebido uma reclamação de outro casal, dizendo que os dois meninos estavam "desrespeitando o ambiente familiar da loja".

Não há outra ação esperada da Me Gusta senão um pedido de perdão.

Estamos profundamente tristes e perplexos com o ocorrido. Queremos nos retratar publicamente com o casal. Por eles terem passado pela degradante situação de se sentirem errados, quando não fizeram nada mais que demonstrar o sentimento que sentem um pelo outro. Sentimento lindo esse, diga-se de passagem.

A culpa não é exclusiva do funcionário. Não é também só do outro casal que se sentiu incomodado. A culpa é da Me Gusta.

Trabalhamos com pessoas. Não só com picolés! Devemos saber da conduta das pessoas que empregamos em nosso estabelecimento. Devemos orientar e situar nossos funcionários no século XXI. Devemos investir em debate e treinamento pessoal para que essa situação nunca chegue a existir. Devemos focar nossa comunicação na tolerância e falar abertamente de amor ao próximo e humanidade. Nos gabamos de não termos robôs em nosso trabalho 100% artesanal. Mas não podemos nos orgulhar disso quando casos desse tipo acontecem.

Por isso, reforçamos aqui o compromisso: a empresa Me Gusta Picolés Artesanais não vai deixar mais isso acontecer. Podem confiar! Nossa política sempre foi em prol da diversidade da compaixão e do respeito. A discriminação é um crime e um problema social muito grave. Abraçamos aqui e agora a missão de combater isso!

Gostaríamos de dizer que estamos atrás de uma resolução. Já tomamos as medidas contratuais cabíveis e contatamos os meninos para que pudéssemos expressar nossa solidariedade e nossa vontade absoluta de superar o ocorrido.

Por fim, pedimos desculpas a TODOS os clientes da Me Gusta. Vocês, que sempre foram bem tratados nesse ambiente que é mais que um negócio para gente... É nossa segunda casa.

Consideramos justa TODA forma de amor. Consideramos como família, QUALQUER tipo de família. Aqui tem espaço para o mundo todo! Não vamos deixar que uma expressão tão covarde, violenta e nojenta como a homofobia fale mais alto que o "hmmm" que as pessoas falam depois de tomar nossos sorvetes.

Obrigado pela atenção!

sexta-feira, 6 de março de 2015

Sou viadinho mesmo, por quê?

"E no diminutivo, porque tenho míseros 1,68 na altura e poucos 54kgs de massa corporal. Se fosse mais alto e parrudo seria um viadão! Porque de forma alguma minha sexualidade deveria ser algo usado como ofensa. Bicha? Dona bicha, por favor! Aqui é assim: só tem bicha nessa cidade! As que não são mortas e massacradas pela falsa moral e os bons costumes, são silenciadas pela lei do "pode ser gay, mas seja discreto." DISCRIÇÃO MEU CU! Isso mesmo, meu cu! Ouviram bem? Cu! Aquele orifício que a mulher também "dá" e que o homem quando o faz perde sua macheza. Onde já se viu tanto fiscal do cu alheio como hoje, hein?

Eu e minha galera não vamos interferir na sexualidade de suas crianças, até porquê eu cresci no meio de heterossexuais e hoje sou essa bicha que vos escreve. Faz algum sentido? E não me venham dizer que é demais para a cabeça de uma criança entender que dois homens ou duas mulheres são um casal. Pro inferno com essa ideia! Vocês implantam a ditadura do rosa e azul na cabeça de seus filhos, fazem piadas de cunho preconceituoso na frente deles e querem que eu engula essa? Depois a gente que é gayzista (termo usado por gente que nem mesmo deve saber o que foi o nazismo, para fazer tamanha comparação).

Chega né? Quantas transsexuais são mortas e a grande massa nem fica sabendo? Quantos meninos, meninas, homens e mulheres são estuprados, violentados e também mortos e no dia seguinte a gente só lamenta o preconceito? Nós viramos números, seus babacas! Somos estatísticas, gráficos e a porra toda, menos humanos. Porque sim, parece que nos tiraram o direito de ser quem somos. Eu já ouvi tanto de que tem que ser discreto, ou respeitar pra ser respeitado. Tenho vontade de cuspir e cagar na cara de quem tem a coragem de expor uma ideia tão boçal e ignorante assim. O que separa a bicha afetada do machão fora do meio é a identidade de cada um. Pra que tanta hipocrisia? Já conheci tantos senhores casados e com família que adoravam dar uma escapada no moleque mais próximo. Engraçado né?

Se Marcelo quer ser chamado de Paula, não diz respeito a você! Se André quer apresentar Marcus como seu namorado no almoço de família, ele não fará isso longe das crianças! Se Bruna gosta de usar roupas masculinas e ainda assim ser Bruna, o foda-se é livre, viu?

Não tem problema ser gay e ser discreto. Não tem problema ser gay e ser afeminado. Não tem problema ser gay e gostar de futebol. Não tem problema ser gay pobre, gay rico, morador de favela, tipão da zona sul. Não tem problema ser gay na rua, dentro de casa, não tem problema ser gay do lado dos seus avós ou dos seus sobrinhos. Não tem problema ser bissexual. Não tem problema ser transsexual. Ou pelo menos não deveria ter.

Minha forma de me colocar não é nem a metade dos danos que essa sociedade preconceituosa faz com gente que se sente diferente só pela orientação sexual diferenciada. Vocês podam os sonhos de crianças, ensinam-as sobre religiões que deveriam falar de amor e disseminam o ódio e a intolerância. Vocês chamam de viadinho, bicha, sapatão, filho da puta, desgraçado e arrombado sem notar que certamente alguém da sua família está ouvindo e sentindo-se ofendido. Vocês falam que o preconceito está na nossa cabeça quando na verdade ele continua sendo passado hereditariamente como uma doença. E é crônica."

- Rafael Amorim