terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Oi, Flávio!

Hoje faz um mês que você não quis mais saber de mim. Que tudo que eu pensei que estávamos construindo foi por água abaixo. Você não quis mais saber de nós dois e escolheu viver sua vida sozinho. Palavra essa que você repetiu incessantes vezes a fim de me convencer a sair do barco que eu queria remar contigo. Ainda bem! Pois, felizmente, você conseguiu.

Conseguiu quando você quis me deixar sozinho em casa num sábado à noite para ir ao samba - compromisso esse que era mais importante do que qualquer outro momento nosso a dois. Na verdade, essa palavra nunca fez parte do teu vocabulário. Raras foram as vezes que ficamos a dois. Era sempre três, quatro, cinco. Fora a bebida. Fora a religião. Fora o assunto que não me incluía. Eu fui embora. E me arrependi de ter ido. E me arrependi de ter me arrependido. Porque você é daqueles caras que de tão seguros de si acreditam que só o que você tem a dizer é o que importa. Por um momento, eu acreditei que isso fosse verdade. Você não me ouvia, né? Me deixei para depois. Priorizei você e seus caprichos. Eu só pensava no teu abraço, no teu beijo, na minha vontade incessante de te ter na minha vida. Mas eu não podia escolher por nós dois.

Nos dias que se sucederam, eu só pensei em ti. Chorei. Chorei com a alma, sabe? Era uma dor sentida. No mesmo dia que eu vim embora, você postou "não encosta, não me beija. Só me olha, me deseja. Quero ver se você vai aguentar a noite inteira sem poder me tocar". Doeu mais ainda. Eu não me aguentei. Havia prometido a mim mesmo que não iria falar contigo. Iria te esperar. Mas eu não resisti. Foi mais forte o meu impulso quando te vi online. E quis falar contigo. Mas não adiantou tratá-lo com o meu melhor. Tua frieza. Tua indiferença. Tua prepotência. Você terminou comigo. Por WhatsApp.

Eu aceitei. Te deixei em paz, como você pediu. Afinal, né... você estava de ressaca. E era isso que importava naquele momento. Deixei o tempo passar. Você me procurou para saber como eu estava; propus conversarmos pessoalmente. Até quando você não queria mais falar comigo, eu pensei em ir até você para ver se aquela frieza se estenderia até o contato olho no olho. Ainda bem que eu não o fiz, porque eu tinha certeza que sim. Mesmo assim, nós marcamos um encontro. Claro, sempre tinha que estar de acordo com sua agenda, sempre tão ocupada, para ver se eu cabia nos espaços. Ainda assim, eu te esperei. Comprei uma caixa de bombom. Escrevi uma carta. Queria lhe fazer uma surpresa. Eu acreditava em nós dois. Mas você não tinha tempo para mim. Ou você, simplesmente, não queria ter.

Tanto não quis que sua proposta era ficar comigo sem compromisso. Depois você me propôs até sexo casual. Mas eu não sou homem sem compromissos. Eu sou daqueles que tem começo, meio e fim. Não fico em cima do muro. Sou 8 ou 80. Água morna nem para fazer chá serve. Você era cheio de não-me-toques. Egocêntrico. Definitivamente, nós não éramos um para o outro. O meu susto (ou talvez nem seja essa a palavra) foi quando você fez teu check-in a caminho do Rio de Janeiro. Lembro como hoje você dizendo que "se eu for para o RJ eu não volto mais". Nas entrelinhas, você dizia que eu não importava. O meu sentimento não importava. 

O que você chamou de "carência", os outros chamam de "atenção". Enquanto você não queria estar comigo no fim de semana, tem gente dizendo que eu ando ocupado demais. Enquanto você não fazia planos comigo, tem gente querendo vir de outro estado para me ver.

É, Flávio... A vida tem dessas! Obrigado por tudo que me ensinou. Espero, de coração, que você esteja feliz. Eu torço por ti. Nós não demos certo juntos, mas as lições que aprendi levarei para o resto da vida. Às vezes, tudo que a gente precisa é de alguém para nos ensinar a não ser como elas.

Feliz ano novo.

sábado, 3 de dezembro de 2016

A Tréplica

"Era 21 de dezembro de 2012. Sexta-feira. Dia em que o mundo iria acabar. Você trabalhava das 14h às 22h. Enquanto eu trabalhava das 08h às 17h Passamos o dia inteiro trocando mensagens. Em alguns momentos eu notei um certo distanciamento da tua parte. Mensagens secas. Eu questionei e você disse que não estava muito bem. Mal estar. Talvez gripe ou virose. Eu pedi pra cuidar de você, mas você respondeu que queria e precisava descansar. Que depois do trabalho você iria pra casa dormir e que nos veríamos no dia seguinte. Em sete meses de namoro nós nunca havíamos ficado longe um do outro numa sexta-feira. Fiquei preocupado com você. Lembrei do dia em que eu estava com febre de 40 graus e ainda assim fui te encontrar. Até melhorei quando te vi. Mas você foi enfático. Queria descansar. Sozinho. Às 22h você foi pra casa. E eu já estava na minha. De banho tomado. Deitado na cama. Esperando por notícias suas. Você me mandou a seguinte mensagem: "Amor, tô muito cansado e indisposto, vou dormir. Nos falamos amanhã, te amo." Eu tinha a impressão de que era capaz de dar a minha vida pela tua. Saber que você não estava bem me fazia mal. Eu tomava as suas dores. E me preocupava com você, mais do que comigo mesmo. Falta de amor próprio da minha parte? Excesso de amor por você? Não sei. Mas eu gostava de me sentir assim. Gostava de te amar.

23h. Minha melhor amiga me ligou:
- "Rafa, tudo bem?”.
- "Tudo bem" Respondi.
- “Você e o Nando estão bem”? Ela perguntou num tom aflito.
- "O Nando está em casa dormindo, está com virose.”.
Comecei a achar aquela ligação muito estranha.
- "Camila, está acontecendo alguma coisa?”.
Perguntei desconfiadíssimo. Embora sejamos melhores amigos, a Camila poucas vezes me ligou, geralmente conversamos por mensagens.
- "Rafa, estou vendo o Nando na fila da balada. E ele está acompanhado de mais três amigos.”.

Senti um frio na barriga. Meu corpo ficou mole. Me senti trêmulo. E emudeci por alguns segundos.
Fiquei em silêncio até retomar o fôlego.
- "Camila, você deve estar confundindo, não deve ser ele.”.
- "Rafa, eu tenho certeza que é ele." Ela respondeu num tom cuidadoso, dava pra sentir a pena que ela já estava sentindo de mim.
- "Ele já te viu?" Perguntei.
- "Ainda não me viu, mas pensei em ir falar com ele".
- "Não!" Eu gritei e continuei:
- "Não deixa ele te ver, eu vou até aí pra verificar o que está acontecendo.

Peguei o endereço e comecei a me arrumar. Eu queria acreditar que tudo era um grande engano. Ou talvez uma surpresa do Nando pra mim. Será que ele vai me pedir em casamento? Será que é uma festa surpresa que eles prepararam pra mim? Cheguei até a soltar alguns risinhos, de nervoso. É uma surpresa. Deve ser. Tem que ser. Pobre de mim. Quanta ingenuidade. Fui dirigindo até a balada num misto de desespero e agonia. Tensão. Quando cheguei na frente da balada já não existia mais fila. A Camila estava lá na frente me esperando. Amigo, fica calmo", disse ela desesperada. "Camila, isso é algum tipo de brincadeira?", perguntei aflito. “Não é”. Mas fica calmo que não deve ser nada demais. NADA DEMAIS? Meu namorado estava dentro de uma balada enquanto me disse que estava doente, dormindo, em casa. Entramos na balada.

Fomos logo procurá-lo. Balada cheia. Almas vazias. Procurei. Procurei. Procurei. Até encontrar. Você estava beijando um cara. Fiquei em estado de choque. Uma dor no peito tão forte que até hoje não sei descrever. Gelou tudo dentro de mim. Um frio na espinha assustador. Meus olhos encheram de lágrima. E desaguaram. Fiquei estático. Assisti de camarote aquele beijo. Reconheci o garoto. Era aquele seu colega de trabalho que curtia as suas fotos no facebook. E que quando eu sentia ciúmes você dizia: “Ele é só um colega de trabalho qualquer”. Assisti aquele beijo até o fim. Quando vocês interromperam o beijo você estava sorrindo. Feliz. Gargalhando. Olhou pro lado e nossos olhos se encontraram. Você congelou me olhando. Parecia uma cena de encerramento de "avenida brasil". Você também ficou estático. O sorriso do teu rosto foi desparecendo lentamente. Você nunca imaginou que eu fosse aparecer ali. Olhei dentro dos teus olhos. E tentei te mostrar toda a minha dor.

Os meus olhos falaram por mim. Telepatia. Eu sentia meu coração sangrar. A maior decepção da minha vida. Acontecendo ali. Na minha frente. Virei às costas e fui embora. Desabei em choro. A Camila tentou vir atrás de mim, mas eu corri. Peguei meu carro e voltei pra casa. Não sei como cheguei. Só lembro de ter desaguado todas as lágrimas que existiam dentro de mim. Chorei tanto em cima da minha cama. Chorei até apagar.

21 de dezembro. O mundo acabando dentro de mim. Acordei no dia seguinte com a sua imagem beijando outro cara. Me senti acordando em cima de uma maca de hospital. Atropelado. Entre a vida e a morte. Esperei encontrar algumas mensagens ou ligações suas no meu celular. Mas não havia. A Camila me mandou infinitas mensagens, preocupada comigo. Coitadinha. Minha amiga fiel foi tão corajosa em me contar. Os dias que se procederam foram de uma grande espera. Por um pedido de desculpas. Por uma explicação. Por uma justificativa. E o dias se tornaram semanas. As semanas se tornaram meses. Os meses se tornaram anos. E a justificativa nunca veio. O pedido de desculpas também não. Até você me reencontrar.



Acompanhado. Namorando. Na mesma balada que você me traiu. Só que agora sem choro. Sem tristeza. Sem decepção. Feliz. Encontrei um cara legal, que cuidou de mim no ápice da minha fragilidade. Encontrei alguém que me ama por inteiro. Que não finge. Que não se acha melhor nem pior. Se vê igual. Nos vemos como iguais. Você pediu desculpas. E pediu pra voltar. Quase três anos depois. Sim, antes tarde do que nunca. Justificou a traição. Disse que se sentia inferior a mim. Sendo que eu sempre te coloquei pra cima. Eu fazia você se sentir o cara mais incrível do mundo. Você mesmo me dizia isso. Se de fato esse foi o motivo pra você ter me traído: Então você realmente era inferior.

Inferior ao amor que eu sentia. Inferior aos meus sentimentos. Inferior aos meus planos de casar e viver contigo pra sempre. Inferior às promessas que você me fez. Inferior a todo o meu sofrimento. Inferior à força e coragem que eu tinha de enfrentar o mundo inteiro e passar por cima de todo e qualquer preconceito. Inferior. Mas quem sou eu pra te julgar? Tá desculpado. Segue em frente e seja feliz. Viva de verdade. Encontre um amor. Aquele amor de verdade que um dia eu te dei. O meu perdão você tem. Mas o meu amor não tem mais.

Adeus."

- Rafael Koerich

A resposta

"Oi, Rafa!

Se ex é aquele que antecede, sou seu ex então. Não sei escrever tão bem quanto você, mas vou tentar. Talvez por isso que eu só tenha te escrito uma carta em 2012. Enquanto você me mandou pelo menos dez. Tenho todas ainda. Teu e-mail foi uma porrada na minha cara. Nocaute. Eu sabia que tinha te machucado, mas não sabia a gravidade. Vi que você postou o e-mail nas redes sociais. Bombou. Obrigado por não ter divulgado o meu nome. Seria uma boa vingança. Tava na padaria tomando um café e vi um casal falando sobre o e-mail. Abri o Facebook e vi alguns amigos compartilhando o texto. Será que sabiam que você estava falando de mim? Não sei. Quase 3 anos se passaram.

Eu não sou mais aquele que fugiu sem prestar socorro. Você não é mais aquele que foi destruído. Amadurecemos. Algumas coisas precisam ser levadas em consideração. Eu tinha acabado de "me assumir" gay. Você foi o meu primeiro namorado. Era tudo muito novo pra mim. Caí em tentação. Eva também caiu. Cauã Reymond, Kristen Stewart, Brad Pit. Maria, Pedro, José, Ana. Nada justifica, eu sei. Mas somos humanos e estamos sujeitos. "Errar é humano". Já ouviu falar? Você tão inteligente. Já formado. Com um emprego incrível. Mil projetos engatilhados. Cheio de amigos legais. Um cara tão forte. Promissor. E eu? O que eu era naquela época? Um estudante. Com um emprego ruim. Trabalhava pra pagar os estudos. Poucos amigos. Incrivelmente seguro, eu? Toda a minha segurança era simulada. Sempre me senti inferior a você. O que esse cara está fazendo ao meu lado? Eu pensava. Você inflava meu ego com tanto amor. Você me chamava de "incrível", "inteligente", de "especial". Embora eu me considerasse um grande nada. O que esse cara tem na cabeça? O que ele está vendo em mim? Alguém avisa pra ele que eu não sou tudo isso?



Você criou expectativas demais em cima de mim. Eu nunca fui tão bom quanto você pensava. Ok. Você fazia eu me sentir incrível. Você fazia eu me sentir inteligente. Você fazia eu me sentir especial. Mas aí tive que fingir ser tudo isso. Fingi pra que você continuasse achando. E pra que pudéssemos ficar juntos. Pra sempre, talvez. Fingi. Até cansar de fingir. E fui embora. Eu sempre achei que você ficaria bem caso eu partisse. Ele vai conhecer alguém melhor do que eu em questão de dias. Nunca pensei que poderia te causar tanta dor (mesmo). Tudo bem, eu poderia apenas ter terminado. Mas eu te traí. E você descobriu. Ou eu poderia nem ter terminado e ter tido uma história feliz ao teu lado. Mas a minha síndrome de inferioridade não permitiu. Eu lembro que fiquei paralisado quando você me pegou no flagra. Eu não consegui ir atrás de você pra te pedir desculpas. O teu silêncio e o teu olhar berraram tão alto que eu fiquei imóvel. O teu olhar naquela noite, lembro até hoje. Foi como se você tivesse me dito tudo o que gostaria de dizer.

Apenas com o olhar. Telepatia. Eu entendi ali que tudo tinha acabado. E pensei: "Ele vai ficar bem". Você pode achar que eu não sofri. Mas eu sofri, sim. Chorei no meu quarto por ter sido tão babaca contigo. Você não merecia passar por isso. Logo você que sempre me deu tanto amor. E motivos pra sorrir. Voltei a viver. Achava que você logo ficaria bem. Que você encontraria alguém a sua altura. Conheci outro cara. Comecei a namorar. E olha a vida sendo vida: fui traído. Peguei mensagens no celular dele. E foi um soco no estômago. Sofri bastante. Quem bate, esquece, quem apanha, não. Me joguei na balada e peguei geral. Numa dessas noites me disseram que você estava por lá. Fiquei com um cara e parece que você viu. Eu jamais imaginei que você ainda se importasse comigo. "Esse cara não deve nem querer saber que eu existo." "Deve ter vergonha de ter namorado comigo." Ou simplesmente não pensei nada. Eu estava vivendo a minha vida ao estilo "deixa a vida me levar". Eu parei de medir os meus atos e sem freio fui seguindo.

Um dia sozinho no meu quarto eu comecei a ler as cartas que você me enviou quando namorávamos. E bateu uma saudade muito grande. Saudade de ser amado. Amado de verdade. Liguei pra você pra perguntar sobre o meu óculos. Que na verdade sempre esteve comigo. Foi só um pretexto pra ouvir tua voz. Um pretexto pra dizer que estava com saudades. Um pretexto pra pedir desculpas. Um pretexto pra dizer: "volta pra mim". Mas quando eu ouvi a sua voz eu travei. Não consegui dizer nada. E desliguei. E voltei a namorar. Sem muito critério. As coisas já não eram mais novidade pra mim. Eu só queria encontrar alguém, começar a namorar e recomeçar a minha vida. Novamente levei um tapa na cara da vida. O cara que eu comecei a namorar veio com um papo de "diferenças culturais". Disse que era bom demais pra mim. E me deu um grande pé-na-bunda. Doeu. Lembrei de nós dois. Das nossas diferenças. E do amor que você tinha por mim, ainda assim. Você gostava de mim assim, do jeito que eu sou. Senti saudades.

Fui pra balada e te reencontrei por lá. Acompanhado. Namorando. Você estava tão lindo. Você estava tão vivo. E eu já estava destruído. Com o coração destruído. E eu te procurei. E pedi pra voltar. Levei quase três anos pra te pedir desculpas. Antes tarde do que nunca. Não é mesmo? E recebi o seu e-mail com aquela resposta. Que me fez entender toda a situação. Às vezes a gente não tem ideia do poder dos nossos atos. Às vezes o amor fere, mas às vezes ele cura. Eu poderia simplesmente ignorar o seu e-mail. Poderia ficar bem e ser feliz. Poderia aproveitar ao máximo. Com verdade. Uma vida de verdade. Um amor de verdade. Pra não ter uma vida vazia. Mas me dei conta que quero viver com você esse amor de verdade. Essa vida de verdade. Vazia a minha vida já está. E só você pode preencher. Pode parecer pretensão da minha parte. Mas se você escreveu aquele e-mail com tanto sentimento e com tanta verdade. É porque ainda sente. Ainda ama. E se esse for o caso, eu vou estar aqui te esperando. Pra gente recomeçar. Recomeçar do zero. Pra mostrar que tudo na vida tem um tempo certo. E talvez o nosso tempo seja agora.

Um beijo.

Te amo."

Querido ex

"Oi!

Sou seu ex. Na verdade você é meu ex. Ex é aquele que antecede. Sou o seu ex, do ex, do ex, do ex. Se é que isso realmente existe. Depois de mim você namorou três ou quatro vezes, acompanhei tudo secretamente pelas redes sociais. Começamos a namorar em 2012 e terminamos no mesmo ano. 2012 foi um ano maluco, não é mesmo? O mundo iria acabar. E não acabou. Nosso namoro, esse sim, acabou. Eu cheguei a pensar que a minha vida também fosse acabar, mas veja só: 2015 chegou e eu ainda estou aqui. Profecias erradas. Namoramos poucos meses. Você me fez tão feliz. Nunca havia me apaixonado tanto. Eu dormia sorrindo e acordava com um sorriso ainda maior. Você era o meu primeiro e meu último pensamento do dia. O nosso primeiro beijo arrepiou a minha alma e você perdeu o fôlego, lembra? Você tão incrivelmente lindo. Você tão incrivelmente seguro. Você. Só você.

Mas aí você me traiu. Me traiu com um colega de trabalho. Me traiu com um colega de trabalho qualquer. E me destruiu. E foi embora. Partiu sem se importar. Frio. Calculista. "Homem foge sem prestar socorro." Manchete no jornal da vida. Da minha vida. Que já não tinha mais sentido. Eu eu fiquei em estado de choque. E comecei a fumar. E bebia pra não lembrar. E fumava pra tentar me acalmar. E bebia porque eu lembrava. E fumava porque não esquecia. E bebia porque não me acalmava. E fumava cada vez mais. E bebia pra tentar esquecer. E não esquecia. E não me acalmava. Então comecei a sair. Meus amigos me arrastaram pra balada. E eu te reencontrei por lá. E você estava tão feliz. E você estava tão lindo. E eu só queria te abraçar e dizer: "tudo bem eu te perdoo, errar é humano, vem aqui, vamos tentar outra vez."

Mas você abraçou outro cara. E beijou esse cara. NA-MINHA-FRENTE. E me destruiu novamente. E eu bebi e fumei ainda mais. Porque me traiu com o seu colega de trabalho se não tinha intenção de ficar com ele? Me traiu só por trair? Quem é esse cara que você está beijando? Eu tinha tantas perguntas pra te fazer. Eu tinha tanta dor dentro de mim. Eu estava tão frágil. E passei a ter raiva. E um dia você me ligou. Eu ouvi a sua voz. E a raiva passou. Mas você só perguntou pelo seu óculos. Que não estava comigo. E desligou. E começou a namorar com outro cara. Que não era o colega de trabalho, nem o cara da balada. E você estava tão vivo. E encheu o instagram de fotos. E legendou as fotos com palavras de amor. E terminou o namoro. E encheu o instagram com fotos na balada. E começou a namorar com uma outra pessoa. E o ciclo era sempre o mesmo. E eu fui murchando aos poucos. Fui morrendo lentamente. Tive que focar no trabalho. Pra não morrer por inteiro. E trabalhei muito. E fui promovido. Uma. Duas. Três vezes. E só trabalhava. E te acompanhava de longe. Acho que gosto de sentir dor. SADOMASOQUISMO.

E dispensei tanta gente que queria ficar comigo. Tanta gente legal. Vesti um escudo. Achei que todas as pessoas eram igualmente maldosas. Maldoso como você foi. Comigo. E com o cara depois de mim. E com o outro cara, depois do cara depois de mim. E vi algumas pessoas querendo cuidar de mim. Teve um que chorou e disse que queria me fazer feliz, pediu permissão. E eu disse não. E de tanto dizer não. Acabei dizendo sim. E eu já não fumava mais. E eu bebi, mas dessa vez foi pra brindar. E eu me senti amado. De verdade. Pela primeira vez. E me senti feliz. E me peguei sorrindo sozinho. Sorriso bobo. E voltei a amar. E não era você. Verdade. Reciprocidade. E você foi acabando dentro de mim. Até acabar por inteiro. E eu passei a dar risada sobre tudo o que aconteceu. As pessoas me diziam que um dia eu iria rir disso tudo. E eu ri.



E eu te reencontrei na balada. E não senti nada. Olhei pro meu namorado e vi um abismo entre você e ele. Eu só desejei que a tua maldade e que a maldade do mundo nunca atinja quem agora eu amo. E que ele nunca se corrompa por tão pouco. Como você se corrompeu. Que o mundo é sujo eu sei. Você me mostrou. Mas é possível sair ileso, basta ser bom. Basta ser do bem, meu bem. E você me viu feliz com outro alguém. E me mandou mensagem. Disse que eu estou bonito. Que o tempo me fez bem. E fez mesmo. E você pediu pra voltar. Disse que se arrependeu de tudo e que sente muito a minha falta. Disse que eu fui o único que realmente te amou de verdade. Há 1 ano atrás eu correria pros teus braços. E te dava todo o meu amor outra vez.

Hoje eu te deixo esse e-mail. Que é a única coisa que eu tenho pra te oferecer. Fica bem e seja feliz. A gente só vive uma vez. Aproveita ao máximo. Aproveita com verdade. Uma vida de verdade. Um amor de verdade. Pra não ter uma vida vazia. Tchau."

- Rafael Koerich