terça-feira, 27 de setembro de 2016

Esse texto é para ti

"Esse texto é para ti que ao decorrer do tempo aturou as minhas crises, que entendeu os meus erros e me perdoou várias vezes, mesmo não merecendo. Que esteve ao meu lado nas alegrias e nas tristezas, que bebeu, cantou e comemorou na minha companhia. Esse texto é totalmente dedicado para ti que me ouviste horas e horas ao telefone, que mandastes sms e sempre apoiastes as minhas escolhas apesar de saberes que eu, em algum dado momento, iria sofrer com as consequências.

Esse texto é para ti, que me abraçastes. Abraçastes com força, que me acolhestes nos braços como uma mãe faria com o filho. Que dormiste ao meu lado, e cuidaste de mim quando pensei estar sozinho neste mundo. É para ti, que me consideras um irmão, que matarias e morrerias para ajudar-me.



Esse texto é para vocês, meus amigos! Vocês que me mostraram que cada peculiaridade nos torna um todo. Que me mostraram que nós podemos não ser a melhor pessoa do mundo, mas que juntos podemos ser. Este texto é para vocês que saberem que pode passar o tempo, as pessoas, os momentos, mas que nada nem ninguém poderá apagar as histórias que hoje estão gravadas em mim.

Estes momentos, apesar de tolos ou engraçados, sempre estarão comigo, a guiar-me a dar-me a certeza de que apesar de o mundo estar abarrotado de pessoas com mau caráter, as pessoas boas também existem e eu sempre encontrarei alguém com quem poderei contar. Alguém como vocês, não iguais, mas suficientemente bons para me dar coragem de seguir em frente.

Obrigado pelas risadas! Danças, confissões. Muito obrigado por fazeres parte da minha vida e principalmente minha história."

- Devaneios Implícitos

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Aprende a fazer falta

"Principalmente para quem sabe onde te encontrar.

Ontem, conversando com uma amiga pelo WhatsApp, ela me contando sobre o fim de um relacionamento, me disse: “Vou sumir. Fazer ele sentir falta”. E concordei, pois embora essa seja uma artimanha arriscada, é uma das únicas que pode dar certo.

De vez em quando o único remédio é sair de cena para o show continuar. Aprender a ser ausência quando tudo já foi dito, cobrado, explicado. Deixar de ser insistência para ser abstinência. Controlar os próprios impulsos pode parecer simples, mas é uma das coisas mais difíceis de se conseguir. Tanta alegria dando sopa lá fora e a gente teimando em se fixar na pessoa que foi embora.

É preciso entender que enquanto você insiste em checar os horários em que o outro “visualizou por último” no WhatsApp, muita vida está acontecendo e sendo deixada pra trás. É claro que no início vai ser mais difícil - não é de uma hora pra outra que o coração entende as mudanças de planos e estações - mas aos poucos, bem aos poucos, a gente aprende a fazer falta.

Suma do mapa de quem sabe onde lhe encontrar e até o momento não se importou; pra quem teve todos os seus sorrisos e nunca valorizou.

Saia de cena de quem você ouviu inúmeros “nãos” e nunca acreditou; de quem pouco se relacionou e muito se cansou. Do afeto pequeno que tanto lhe recusou e você sempre aceitou.

Suma do mapa de quem vive com dúvidas e nunca lhe teve como certeza; de quem não aprendeu a remar junto e agir com gentileza.

Aprenda a fazer falta para quem já se habituou à sua presença e desaprendeu a sorrir quando você aproxima. Pra quem se esqueceu como é boa a sua companhia e prefere se refugiar numa vida fria.

Fazer falta é segurar o impulso de procurar, vasculhar, perguntar. É frear a vontade de entender o que não dá mais para explicar ou de justificar o que não merece absolvição.



Fazer falta é não ligar, não mandar mensagens, não digitar o tal endereço na barra de contatos do email. É sair para se distrair com os amigos, dar uma corrida no parque, respirar fundo e encontrar sentido na solidão. É orar para o pensamento acalmar, não bisbilhotar o perfil da pessoa no Facebook, deixar de postar as próprias fotos com a intenção de ser visto à distância. É desistir de parecer bem quando não está bem, é cortar o cabelo para renovar o espírito, é ficar bem longe do celular enquanto toma um copo de cerveja ou uma taça de vinho. É, acima de tudo, agir com esquecimento para quem sempre pareceu esquecer você.

Torço para que minha amiga consiga sumir. Para que, sumindo, ela descubra se realmente faz falta. Para que, sumindo, ela descubra o quanto sua presença é importante ou não. Sumir é uma estratégia arriscada, eu sei. Mas também define muita coisa mal resolvida. Também traz as respostas que buscamos e nem sempre encontramos.

Nem sempre as respostas serão aquelas desejadas, mas no fim nos libertam a prosseguir com mais certeza, clareza… e amor próprio."

- Fabíola Simões

domingo, 18 de setembro de 2016

Para o amor que vai chegar

"Eu já quis esquecer as histórias de amor que vivi. Eu me entreguei por inteiro em todas elas, e quando a gente se entrega por inteiro, quase não existe nada da gente para recolher quando algo acaba. Mas eu sou assim, só consigo amar se for para sempre. Nada de ir com cuidado, planejando o próximo passo; definitivamente, eu não tenho paciência para isso. Dane-se se isso assusta. Eu já penso em um casal de velhinho rindo à beça e me parece um bom momento. Você sabe como é ser assim?

Sabe como é acreditar que tudo vai ser pra sempre?



Mas não é. Nada é pra sempre. Encaro todas as minhas histórias de amor quando me olho no espelho pela manhã. E não é fácil. Não é fácil ouvir promessas, palavras doces, gestos lindos e ver sorrisos marcantes, mas no dia seguinte só resta uma lembrança que dorme na minha cama. E dorme roubando o meu cobertor. Sei que sou só mais um vivendo essa mesma história, mas uma coisa eu aprendi: não posso esquecer essas histórias, pois eu estive lá. Esquecer essas histórias também seria me esquecer. E não farei isso. 

P.S: Não me peça para ir com calma."

- Zack Magiezi

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Eu também existo quando você não está solitário ou com tesão

"– Sumido.
– Opa!
– Tá em casa?
– Onde vc tá?

Quando o celular apita e uma dessas mensagens chega, eu já sei de quem é e o que a pessoa quer. E a culpa é minha por elas insistirem em chegar. Eu deixei que elas chegassem, eu respondi muitas delas, eu achava que queria a mesma coisa.

Mas, nas últimas vezes, minha certeza foi diminuindo. “Quero mesmo?”, pensava quando via a mensagem. “O que eu estou fazendo?”, indagava enquanto estava dentro do táxi ou arrumando minha casa. E minha reação quando tudo acabava confirmava que eu não queria e que eu não sabia o que estava fazendo: eu simplesmente ia ouvir música ou ver televisão, ficava inquieto querendo ir embora ou expulsar a pessoa daqui. Por poucos minutos de prazer, esquecia quem eu era. E no fim, quando eu lembrava, já era tarde demais.



Sexo eu tenho daqui até a China e com pessoas que eu até acho muito gostosas, atraentes, e boas de cama. Alguém pra me dar a mão num filme de terror, não. Alguém que comprou um chocolate por ter lembrado que era meu favorito quando viu ele na fila do mercado, não. Alguém que queira saber de verdade como foi o meu dia, não. Alguém que saiba qual meu gosto em música, não. Alguém que queira conversar sobre reencarnação de madrugada bebendo vinho, não. Alguém que compartilhe e me faça compartilhar, não. Alguém que se arrisque ao me ver me arriscar, não. Alguém que me ouça e me dê palpites, não. Alguém que me ame por tudo que sou e não só por algumas partes de mim, não.

Talvez você não saiba, imagine, ou nem pense nisso, mas eu também existo quando você não está solitário ou com tesão."

- Gabriel KDT

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Desculpe o transtorno, preciso falar da Clarice

"Conheci ela no jazz. Essa frase pode parecer romântica se você imaginar alguém tocando Cole Porter num subsolo esfumaçado de Nova York. Mas o jazz em questão era aquela aula de dança que todas as garotas faziam nos anos 1990 –onde ouvia-se tudo menos jazz. Ela fazia jazz. Minha irmã fazia jazz. Eu não fazia jazz mas ia buscar minha irmã no jazz. Ela estava lá. Dançando. Nunca vou me esquecer: a música era "You Oughta Know", da Alanis.

Quando as meninas se jogavam no chão, ela ficava no alto. Quando iam pra ponta dos pés, ela caía de joelhos. Quando se atiravam pro lado, trombavam com ela que se lançava pro lado oposto. Os olhos, sempre imensos e verdes, deixavam claro que ela não fazia ideia do que estava fazendo. Foi paixão à primeira vista. Só pra mim, acho.

Passamos algumas madrugadas conversando no ICQ ao som de Blink 182 e Goo Goo Dolls. De lá, migramos pro MSN. Do MSN pro Orkut, do Orkut pro inbox, do inbox pro SMS.



Começamos a namorar quando ela tinha 20 e eu 23, mas parecia que a vida começava ali. Vimos todas as séries. Algumas várias vezes. Fizemos todas as receitas existentes de risoto. Queimamos algumas panelas de comida porque a conversa tava boa. Escolhemos móveis sem pesquisar se eles passavam pela porta. Escrevemos juntos séries, peças de teatro, filmes. Fizemos uma dúzia de amigos novos e junto com eles o Porta dos Fundos. Fizemos mais de 50 curtas só nós dois —acabei de contar. Sofremos com os haters, rimos com os shippers. Viajamos o mundo dividindo o fone de ouvido. Das dez músicas que mais gosto, sete foi ela que me mostrou. As outras três foi ela que compôs. Aprendi o que era feminismo e também o que era cisgênero, gas lighting, heteronormatividade, mansplaining e outras palavras que o Word tá sublinhando de vermelho porque o Word não teve a sorte de ser casado com ela.

Um dia, terminamos. E não foi fácil. Choramos mais que no final de "How I Met Your Mother". Mais que no começo de "Up". Até hoje, não tem um lugar que eu vá em que alguém não diga, em algum momento: cadê ela? Parece que, pra sempre, ela vai fazer falta. Se ao menos a gente tivesse tido um filho, eu penso. Levaria pra sempre ela comigo.

Essa semana, pela primeira vez, vi o filme que a gente fez juntos —não por acaso uma história de amor. Achei que fosse chorar tudo de novo. E o que me deu foi uma felicidade muito profunda de ter vivido um grande amor na vida. E de ter esse amor documentado num filme —e em tantos vídeos, músicas e crônicas. Não falta nada."

- Gregório Duvivier