segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Se não fosse tudo isso que a gente passou

"Se não fosse tudo isso que a gente passou, eu não teria chegado a esse nível de maturidade que eu cheguei (mas falta muito ainda pra amadurecer). Se não fosse tudo que a gente passou, eu provavelmente estaria mais fraco, teria menos desafios e amigos menos confiáveis. Você foi um filtro na minha vida, fazendo com que coisas e pessoas ficassem para trás e as melhores ficassem para mim. Você saiu de mãos limpas de toda essa confusão em que a gente se meteu.

Chorei muito, chorei por meses, talvez por anos. Mas passou. Mesmo com a sua insistência em cutucar as minhas feridas eu estou inteiro, de pé e muito mais confiante do que era quando a gente esteve junto.

Eu sei que foi muito confuso, que para ambos foi uma merda, mas eu queria de coração que você se acertasse com alguém e fosse feliz. Não em meu benefício, mas aquela máxima diz que gente feliz não enche o saco. E é verdade. Mas eu quero você feliz porque nós não conseguimos alcançar a felicidade juntos e eu entendo que não tinha outro jeito mesmo. E te desejo o melhor.



Enquanto você não se arranja, eu vou colocando meus fones de ouvido e intercalando entre Smiths e Beatles, as bandas que você mais odiava no mundo e que eu parei de ouvir por sua causa. Você deixou de fazer um montão de coisas por minha causa também, mas eu descobri – com o tempo, aquele senhor da razão – que ninguém deve se privar de nada pelo outro. Mesmo que as reações sejam exageradas, os beijos curtos e a felicidade distante. Queria que você me desculpasse pelas mágoas que eu deixei e eu te desculpo pelas suas também. A vida é assim, a gente vai aprendendo e descobrindo que quando é amor a gente reconhece na hora. Mesmo começando com aquela paixão avassaladora de transar 12 horas por dia e suportar a terrível conchinha nesse país tropical.

Eu quero que você saiba que o que a gente viveu pode não ter sido a melhor coisa do mundo – looooooonge disso – mas que eu tô continuando minha vida independente de tudo que você acabou tolhendo. E espero que você consiga prosseguir apesar de todas as limitações que eu acabei colocando em você também.

Fica em paz, quero que você seja uma pessoa foda. Porque eu também quero ser e desejo isso para todo mundo. Até para você."

- Ju Umbelino

sábado, 21 de novembro de 2015

Como vi meu ex se apaixonar por outra pelo Facebook

"Nós terminamos no estacionamento de uma pizzaria. Ele queria casar. Queria filhos, um emprego decente e um quintal grande para ter cachorros. Eu queria Nova York. E Londres. Talvez a Tailândia por um ou dois anos. Queria escrever e morar num apartamento horrível e viver uma paixão desajustada. Eu tinha acabado de fazer 21 anos e ainda não queria algo tão fácil.

Pedimos uma pizza para viagem, sentamos no carro dele e comemos em silêncio. Preferimos isso a pagar o serviço e ouvir a rádio horrível dos anos 90 que tocava dentro do restaurante, ou talvez fosse simplesmente melhor comer em silêncio.

“Tem alguma coisa errada”, eu falei.

“Erraram o pedido?”, ele perguntou preocupado, me lembrando porque eu amava ele.

“Não. Não com a pizza. Com a gente”, eu falei.

Sobrou um pouco de molho no queixo dele. Limpei com o dedo, mesmo sem saber se deveria. Chorando, nos prometemos várias coisas impossíveis, com a pizza não-comida gelando nos nossos pés. Quem sabe em alguns anos, falamos. E eu acreditei nisso por mais tempo do que deveria.

Foi minha justificativa para, três meses depois, espiar o perfil de Facebook dele durante uma madrugada. Eu me prometi que só queria saber se eles estava bem. Eu me convenci que só queria saber se ele tinha conseguido um emprego. Sabe, chechar se está tudo bem com os pais deles. Sempre havia um motivo para visitar o perfil dele.

A primeira foto deles juntos foi tirada em uma festa. Acho que era uma festa pelo copo de plástico na mão dela e o sorrisinho meio bêbado dele – aquele do qual eu tanto tirava sarro. Ele segurava ela pela cintura e enquanto eu olhava para a tela do computador, tentei não me lembrar de como eu me sentia quando ele colocava a mão na minha cintura. Talvez eles sejam só amigos. Será que eles já se conheciam enquanto namorávamos? Fiquei pensando se já tinham dormido juntos.

Eu me lembrei que não tinha o direito de me importar com isso. Mas eu me importei. Eu fechei o laptop com tudo. Já tinha me torturado o suficiente por uma noite. Mas assim que eu dormi, sonhei com ele.

Era inverno. A neve estava suja no estacionamento da loja de conveniência onde compramos papel higiênico. Estávamos encostados no carro e eu sentia que estava congelando. Ele respirou perto de mim, aquela nuvem de ar quente me aquecendo. Como em qualquer sonho desse tipo, a história não fazia sentido algum. Por que estávamos parados e não andando? Por que estávamos dirigindo o carro da minha mãe em vez do dele? Por que ele estava sem casaco? Por que ainda estávamos juntos?

Eu tirei minhas luvas e coloquei as mãos por baixo da camiseta dele, procurando seu peito. Ele sentiu arrepio e sorriu para mim.

“Eu só estou aqui para aquecer suas mãos, né?”, ele disse.

“Talvez”, eu dei uma risadinha.

Acordei com frio, procurando por ele na minha cama.

O momento depois de acordar sempre foi o pior de todos. Naquele momento, eu sentia que o sonho era real, que talvez a gente nunca tivesse terminado. Naquele momento em que eu voltava a dormir, desejando mais do que tudo colocar minhas mãos no peito dele. Aquele momento em que eu lembrava quão fácil era amar e ser amada e que parecia impossível que aquilo não fosse mais o caso.

Eu peguei meu celular no criado-mudo e dei uma olhada no Twitter. Eu precisava estar com ele, do jeito que fosse. Lendo os posts dele, conseguia ouvir a sua voz. Eu imaginava ele dando risada das próprias piadas antes de postar e sorria pensando nisso. Eu ouvia tão bem a voz dele que por um minuto nem me senti tão sozinha.

Seis meses depois de terminar, outra foto surgiu: ele e a garota do copo de plástico num jogo de baseball. Senti um nó no estômago quando entendi que ela se tornaria alguém presente na vida dele. Olhei aquela foto, cada um segurava uma bebida. Me perguntei se ela gostava de esportes ou só estava lá pela cerveja e pelos cachorros quentes, como eu. Ou se ela adorava olhar a calça justa dos jogadores, ou falar do pessoal bêbado em volta dela. Ou se eles estavam se divertindo.

Vendo eles juntos, com aqueles sorrisos sinceros e copos cheios, ainda assim não entendi que ele tinha superado. Talvez em alguns anos – eu sempre lembrava daquela promessa com facilidade. Eu não queria ele agora, mas isso não significava que eu não poderia ter ele nunca mais.

Eu não conseguia aceitar que ele podia se apaixonar por outra enquanto eu ainda o amava. Naquela época, eu não entendia que o amor podia ser algo tão platônico. Eu não conseguia imaginar que ele falava para ela coisas que tinha falado para mim, ou que olhava para ela do mesmo jeito que me olhou um dia.

Estava tão iludida que sentia dó dela. Aquela coitada que tinha um namorado que amava a ex. Engraçado como é fácil acreditar no inacreditável para não se magoar.

Eu pensava nele deitado na cama, olhando para o teto, desejando que aquela garota ao lado dele fosse eu. Era mais fácil imaginar que ele não conseguia dormir, me procurando pela cama, do que acreditar na real: que ele não estava pensando em mim.

A internet me contou várias coisas sobre ela. Que ela era linda e inteligente. Que ela era sociável e tinha um sorriso doce. Eu queria odiá-la, mas não conseguia. Ela tirava fotos com crianças e sorria de forma muito sincera. Ela ria de um jeito que me parecia autêntico. Ela parecia uma daquelas mulheres que não demora para se arrumar.

Olhava para a foto do perfil dela e depois para a do meu, tentando sair de dentro de mim e ser um juiz justo comparando nós duas. Olhava para nossos perfis e via tudo que a gente tinha em comum, e tudo que a gente não tinha. Meu rosto é mais angular que o dela, meu cabelo é menos loiros. Meu sorriso não é tão espontâneo, a não ser nas fotos em que eu estava com ele. Ela fazia mais trabalho voluntário que eu, mas eu parecia sair mais. Ela parecia vir de uma família com dinheiro, e eu parecia viver de roupas de doação e uma lista de supermercado enxuta. A gente tinha nossas diferenças, mas também tinha similaridades óbvias: amávamos nossas famílias, nossos amigos e o mesmo cara.

Foram meses assistindo eles se marcarem em fotos até a mudança do status de relacionamento. Eu sofria vendo eles trocando piadas internas no Twitter e especulava do que eles estavam falando. Percebi quando ela ficou amiga das irmãs dele e tirou fotos com a sogra. Fui a espectadora da viagem de férias dele, enquanto ele usava um relógio que foi presente meu. Vi eles dirigindo juntos no carro em que nos beijamos - o mesmo carro em que terminamos.

Eu vi o relacionamento deles chegar a fases que o nosso tinha chegado, e a fases que não tinha.

Eu me perguntava se eles brigavam. Me perguntava se o que ele fazia que tanto me irritava também incomodava ela. Me perguntava se ela também queria o quintal grande e o emprego estável.

Sim, eu poderia parar de acompanhar eles a qualquer momento, mas era um vício. Eu queria saber o que ia acontecer. Se eles iam dar certo. Ou, talvez, se não iam.

Apesar de me torturar tanto, nunca falei com ele.

Eu ainda queria Nova York. E Londres. E talvez a Tailândia por um ou dois anos. Nada tinha mudado. Mas eu gostava de ver as fotos daquele dentucinho. Eu gostava das caras bobas que ele fazia quando não estava pronto para a foto. Ele me lembrava de como era me apaixonar, e eu gostava disso.

Nós estávamos em caminhos opostos, mas eu ainda sentia uma atração inexplicável por ele. Era tão bom ter ele ali, tão acessível, mesmo se ele não estivesse de fato.

Eu não me achava uma stalker, mas talvez eu fosse – espiando a vida feliz de alguém por uma janela virtual. Acho que pensava que, só por vê-lo na tela do computador, de alguma forma ele ainda era meu e talvez eu não estivesse sozinha e talvez alguém me amasse. Talvez ele também estivesse espiando minha vida.

Com o passar do tempo, entrei menos no perfil dele. E quando eu entrava, não doía mais tanto. Ao contrário, passou a ser quase um tédio, uma dor familiar que deixa cicatriz, mas você sente mais a dor pela lembrança do que por qualquer outra coisa.

Comecei a conseguir passar uma hora sem pensar nele. Depois foram algumas horas, um dia, uma semana, um mês.

Hoje, quando entro no perfil dele, quase não sinto mais nada. Tenho orgulho quando algo de bom acontece na carreira dele, e fico triste se alguém morre. Fico feliz por ele estar apaixonado. Fico feliz que a garota do copo de plástico encontrou um homem tão bom.

Talvez hoje ele seja diferente. Não dê aquele ronquinho quando ri ou não faça sanduíche de pizza antes de comer. Talvez eu não conheça mais ele. Ainda assim, entrar no perfil dele me lembra de como fui capaz de amar e que sou digna de ser amada. Eu me lembro de que quando você realmente se importa com a outra pessoa, você nunca realmente a esquece."

- Kirsten King

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Não te desejo mal, só não te desejo mais

"Nós levamos um tempo até nos darmos conta. No fundo, vivemos por tentativas de querer viver aquilo por mais tempo. Abraçamos a menor das esperanças com a força que jamais imaginaríamos ter. Até aceitarmos os fatos da vida, vivemos pelas migalhas que ela dá.

Não é sobre viver pelas pequenas coisas, é sobre viver pelas coisas pequenas; que são coisas não tão iguais assim.

Isso significa que a surpresa de um inexpressivo “oi, tudo bem?” no chat do Facebook renovava todas as minhas energias. Parece que todas as partes ruins da história se tornam boas quando coisas assim acontecem. Em momentos como este, ignoramos toda e qualquer pessoa que nos chamar, se for uma nova proposta de emprego ela bem que pode esperar; à quem gostamos, não. Queremos estender aquele segundo até torná-lo eterno. Cavamos assuntos como se quiséssemos dizer: "olha pra mim, eu sou interessante, nos damos tão bem, não desista do que somos, se é que somos! Nos deixa ser!"

Foi mais ou menos assim que eu me comportava em silêncio com você. Eu te mandava links de vídeos imaginando que poderia gostar, te marcava em fotos engraçadas e, rezando por sua atenção, comentava sobre as estreias do cinema. Eu assistia os seriados que você dizia gostar. Eu pararia o mundo se me pedisse pra parar. Hoje me pergunto se algum dia você percebeu como tentei te fazer especial na minha vida. Me pergunto se consegui te mostrar como queria muito mais que a sua companhia. E quando penso nisso fico feliz: é que eu sinto que fiz tudo o que eu podia, ainda que não tenha dado certo no fim como eu gostaria.

É que uma coisa é dar certo, outra é dar certo como gostaríamos.

Você não faz ideia de como eu me multiplicava em mil para estar à disposição para você. "Quer fazer alguma coisa?" era o tipo de pergunta que me fazia dirigir a 200 km por hora pra te encontrar. Eu não queria perder nenhum segundo! Queria te ver logo, queria tão logo me ver nos seus olhos e sentir aquela coisa boa que eu sentia. Você não faz ideia da quantidade de batidas que o meu coração dava quando a gente se encontrava – era a minha batida perfeita. O celular gritava com diversas notificações, mas para mim nada importava. Eu demorava para escolher uma roupa boa para te acompanhar. Demorava para me arrumar e ficava preocupado em você se cansar de me esperar. Demorava tanto em me preparar porque eu queria que tudo fosse o mais perfeito, já que eu não sabia quando nos veríamos outra vez. Demorei tanto dedicando tempo para você que hoje entendo a demora que levei para começar a te esquecer. Eu nunca fui de viver as coisas no meio termo, mergulho de cabeça até nas notificações de mensagens lidas e não respondidas. Consciente dos lados bons e ruins, sou e sempre serei assim:profundamente coração.

Só que hoje eu quero te ver partir. Hoje é a última vez que eu me permito reviver coisas que nem chegamos a viver direito. Quero que hoje seja a última vez que eu vou dedicar parte da minha vida em pensar na parte dela que você estava. Levei um tempo para aceitar a sua partida, mas agora eu não imagino mais nem a sua visita. O assunto central aqui é a minha certeza de que o melhor lugar para você estar na minha vida é fora dela. Já aceitei minhas tentativas, valorizei minhas investidas e continuo apaixonado pelas minhas esperanças, mas cada umas dessas coisas eu não quero mais dedicar para você.

Não te desejo mal, só não te desejo mais. Vou seguir vivendo como vivia antes de você aparecer, afinal, antes de você eu já sorria. Vou seguir ansioso por bons dias, empolgado com as pequenas coisas, mas sabendo diferenciá-las das coisas pequenas. É isso. Você já pode ir, eu também vou. Não quero falar sobre a nossa parte boa, pois o que me importa agora é a parte boa da vida que eu nem vivi ainda."

- Márcio Rodrigues

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Alguém especial

"Ainda não é alguém pra gente chamar de “pra sempre”. É só alguém especial. É só um alguém que faz bem pra gente. Alguém que a gente gosta de contar do dia; que a gente gosta de ouvir a opinião. Aquele alguém ainda não é alguém que pode nos cobrar, mas é alguém que tem licença para nos lembrar do que precisamos, do remédio para tomar até um pensamento positivo para somar.

Aquele alguém especial ainda não é o amor da nossa vida. É só alguém. Mas é um alguém que a gente não gosta de parar de falar. Que a gente sorri com a notificação no celular. É um alguém que a gente chama para jantar no lugar de outros “alguéns” por aí.



A gente não precisa esperar o amor da vida inteira. A gente pode aproveitar o amor de só uma noite inteira. É um alguém especial.

Aquele alguém especial é quem nos confunde ao nos decifrar e fazer bem sem necessariamente precisar. Nos leva à dúvida de parecer muito mais que só um alguém enquanto também não é ainda alguém o bastante para se dedicar tanto assim. Como pode? É alguém que entende o que a gente gosta! Sabe como não conseguimos resistir a um carinho atrás da orelha.

É muito estranho. Aquele alguém especial é alguém que nos faz sentir vários tipos de saudade. Saudade da rotina de todo dia ter um “bom dia”. Saudade dos links com vídeos engraçados ao longo do dia. Saudade do tipo de piada, do tipo de risada. Saudade até mesmo das brigas e discussões.

É alguém que até a internet parece entender que não é só um alguém qualquer. Aquele alguém está ali no nosso chat, está no topo das nossas conversas de Whatsapp, tem as publicações aparecendo mais vezes em nossa timeline. É como se a internet dissesse: “presta atenção que esse alguém já faz mais parte da sua vida do que você imagina”.

E muitas vezes não nos damos conta disso por medo. Jogamos contra nós mesmos, tentamos não aceitar e evitar que se torne algo maior que nos machuque mais. Mas é só alguém. É só um alguém que nos faz bem. É só um alguém especial tentando mostrar como também somos especiais.

É um alguém que talvez se dedique bem mais do que nós já nos dedicamos um dia. Um alguém que não tem medo de ir além e falar o que pensa, sabendo que sempre será algo que vamos gostar. Aquele alguém especial é um alguém que nos lembra do que não podemos esquecer: como somos bons sozinhos mas que podemos ser ainda melhores juntos.

Aquele alguém está por aí, mais perto de você do que imagina. Entre uma e outra foto curtida cheio de vontade de nos curtir também."

- Márcio Rodrigues

domingo, 8 de novembro de 2015

Sinto saudades, mas não quero ninguém de volta

"Sinto saudades de muitas coisas que vivi. Sinto saudades de momentos, de sentimentos, de sensações. De pessoas, de lugares, de conexões. Na verdade, sou um poço de saudades.

Adoro relembrar meu passado, contar minhas histórias, chorar minhas tristezas, rir minhas alegrias. Vira e mexe, lembro de algumas situações com ex, com amigos do passado, com inimigos…rs

E gosto de dividir essas histórias com quem faz parte do meu presente. De contar como aconteceu, o que senti, como entendi o comportamento do outro. De rir, de chorar, de sentir raiva de novo. De relembrar os sorrisos, os olhares, os abraços, as demonstrações de afeto, de solidariedade.

Mas nem de longe desejo voltar ao passado. Gosto do que sou hoje, mesmo com todas as minhas dores e dessabores. Gosto de quem me tornei, de carregar comigo as lembranças do passado, os amores acabados, os choros engolidos e os sorrisos de lado.

Sempre conto histórias de meus ex. Ex-amores. Mas falar dos ex de forma carinhosa, terna pelo que me proporcionaram nem de longe quer dizer que os quero de volta. Porque realmente não quero.

Para ser bem sincera, quando me apaixonei por cada um dos meus ex, era mais pelo que eles eram na época somado ao que eu era na época, ou seja: não teria nem como eu me apaixonar por algum deles hoje. Primeiro porque não sou mais quem eu era na época. Segundo porque nem quero mais o que eu queria. Mas, acima de tudo, porque muitos deles ainda são o que eram, e é justamente o que eu não quero para mim hoje. Mesmo os que evoluíram, seguiram por caminhos que não poderiam ser traçados ao meu lado.

Quero seguir a vida sem ter que apagar minhas memórias, sem deixar de contar minhas histórias. Mas não quero ninguém de volta. Que sejam felizes ao seu modo e no que eu puder ajudar, o farei. Sou grata por tudo o que vivemos juntos de bom e de ruim, pois foram essas vivências que me fizeram ser quem sou hoje. Lembro com carinho de cada detalhe, mas não haveriam meios de um dia isso se tornar de novo um “nós”.

Tudo isso se tornou uma saudade lúcida, gostosa, consciente. Sem o menor anseio de virar realidade no presente."

- Thatu Nunes

Eu nunca quis você pra mim, eu só queria você por perto

"Eu nunca quis te prender. Nunca quis você em casa vinte e quatro horas por dia, a salvo das intempéries do mundo e longe de todas as outras pessoas. Eu nunca te quis submisso ou passivo, muito menos te quis dependente de mim. Nunca foi a minha vontade te afastar dos seus estudos, do seu trabalho, dos seus amigos. Eu nunca quis ser uma sombra assustadora sobre a sua liberdade e sobre a sua independência. Apesar de eu querer você na minha vida, eu não quero você só na minha vida. Nunca passou pela minha cabeça competir com as coisas que você gosta, eu só queria ser mais uma delas.Você ia continuar conhecendo pessoas, fazendo suas coisas, suas atividades, porque eu nunca quis você para mim, eu só queria você comigo.

Enquanto eu dizia que queria compartilhar a minha vida com você, você ouvia que eu queria a sua vida para mim. Eu queria alguém para dividir as coisas ruins e somar as coisas boas, e você achava que eu queria te poupar de tudo, tentar tomar conta da sua vida e resolver todos os problemas do mundo. A minha vontade é essa mesmo, e se eu pudesse, eu te pouparia de todos os perigos e sofrimentos do mundo. Mas eu não posso e não faria isso. Se eu fizesse, você deixaria de ser você. Mas é porque temos opiniões diferentes sobre o que é liberdade.

Para você, liberdade é poder fazer o que quiser, sem ter que dar satisfação ou se preocupar com ninguém. Para mim, não. Para mim, liberdade é saber que, mesmo tendo que dar satisfação ou me preocupar, eu posso fazer o que eu quiser. Assim como a coragem não é a ausência de medo, e sim o controle do medo, a liberdade não é não se prender a ninguém e poder fazer o que quiser. Liberdade é ter a coragem e a maturidade de, sim, abrir mão de fazer alguma coisa para ficar em casa vendo um filme, se você quiser. Liberdade não é a obrigação de fazer qualquer coisa, e sim saber que você poderia fazer qualquer coisa, se quisesse.

Eu queria pegar o carro e fugir pra qualquer lugar com você por dois dias, mas você só achava que eu queria te roubar do seu mundo. Eu queria que você passasse trinta horas na minha casa, e você só se preocupava que havia faltado a algum compromisso e que isso te fazia mal. Eu me propus a encontrar um meio termo — mesmo eu não sendo uma pessoa de meios termos, eu estava disposto a fazer isso. Mas você preferiu não correr o risco. Eu prefiro ter alguém para me ajudar a suportar as coisas ruins, você prefere ficar sozinha e não correr o risco de ver seu perfeito e alinhado trem do planejamento sair dos trilhos por alguns segundos. Mesmo sabendo que as vezes em que eu tirei seu trem dos trilhos foram os nossos melhores momentos juntos. Eu prefiro aumentar os trilhos, você prefere me jogar pra fora do trem.

Eu te propus tratarmos a nossa dor no joelho com analgésicos, e sermos felizes nos momentos sem dor e tentarmos superar juntos os momentos de dor. Você preferiu amputar a perna, se livrando de vez da dor, mas abrindo mão também do lado bom. Eu tentava ver o lado bom das nossas brigas — estávamos nos ajustando. Você sempre via o lado ruim da coisas boas, como quando você me dizia que sentiu saudades, que seus sentimentos com relação a mim eram ambíguos ou quando eu percebia nitidamente uma centelha de paixão por mim nos seus olhos. E a centelha estava lá. Mas você fechava a janela pro vento não aumentar as chamas. Nós poderíamos ter sido tudo o que eu dizia que nós seríamos, porque você nunca entendeu o que eu queria e, assim sendo, recusou a minha proposta de o que você pensava que eu queria. Você teve medo de me oferecer algo que eu nunca quis, você se negou a ser o que eu nunca quis que você fosse. Será que um dia você vai entender o que eu queria e me deixar não ser a sua vida, mas somente estar na sua vida."

- Léo Luz