segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Sou viado sim

Mas não aquele viado que você chama o seu amigo ou o jogador do seu time quando ele perde o gol. Não o viado do motorista de ônibus que passa direto do seu ponto sem parar pra você. Também não sou o viado que sai da sua boca tão facilmente quando você precisa ofender alguém ou remeter a algo ruim, negativo, pejorativo.

Eu sou o viado que você encontra na rua. Aquele, andando engraçado, com as pernas juntas que provocam aquele rebolado esquisito. O viado gesticuloso, escandaloso. Aquele que produz o cabelo todo, passa uma base na cara e vai pra rua.



Eu sou o viado que encara medo na rua dia após dia, que ouve desaforos e desrespeitos, tem medo de apanhar e precisa, vez ou outra, se fantasiar de hétero porque é obrigado pela sociedade em que vive. Sou o viado que um dia a mãe teve vergonha de ter como filho. O viado que viu o amigo sendo exorcizado porque a bíblia condenou quem ele era. Viado que teve uma amiga assassinada vítima de transfobia.

Eu também sou o viado que briga, discute e te desargumenta porque é a minha pele que sente o vidro da lâmpada quebrando quando você alimenta a maldição da minha orientação em suas brincadeiras. Sou o viado, que anda com o preto e com a mulherzinha. O viado que é muito mais do que você consegue ver. O viado que vai bem além do que sai da sua boca, do que você aprende na sua igreja ou do que você ouviu dentro de casa.

Sou viado e sou mais homem do que muito homem. Mais homem do que você que acha que ser viado ainda é coisa ruim.

- Autor desconhecido