sábado, 28 de janeiro de 2012

Sabe aquele ciúmes?

Ciúme não é só ter medo de perder alguém. É gostar tanto desse alguém a ponto de não aguentar só uma parte da atenção. É o sentimento mais infantil que existe: é meu e eu não empresto pra ninguém. E o que não é, também não empresto. Aliás, o problema maior é justamente esse, separar o que é meu de fato do que eu acho que é. E ter que disfarçar essa loucura de não querer dividir pessoas que nunca me pertenceram. Ciúme na medida é carinho, fora da medida é problema. Não ter ciúmes é ruim, porque gostar é isso, querer sempre, querer inteiro, querer só pra si. E ter ciúmes demais é trágico, porque desgasta relações, sufoca o outro e principalmente você mesmo. Aí você vai e fica sem compromisso com alguém, e gosta, e te faz bem, tá tudo ótimo até você ter o maldito ciúme. Aí já era, não tem mais limites, não tem mais saída. Ter ciúmes é de fato um sinal e te deixa somente duas opções: Ou você se compromete e pode usar o pronome possessivo à vontade, ou você cai fora, porque já se envolveu demais. Não tem como se controlar, mudar, deixar passar. Quando ele chega, ou você sai, ou ficam os três. Porque ficar só você e o ciúme, não só dói, enlouquece.



(Marcella Fernanda)

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Segue em frente

No fundo, a gente pode viver sem qualquer pessoa. Ninguém precisa de ninguém específico. Amores a gente supera, e deixa guardados no fundo da alma, sorrisos a gente deixa de se lembrar aos pouquinhos, até que a lembrança só apareça de vez-em-quando-quase-nunca, amizades a gente pode superar também. O que resta de tudo são as lembranças. Os momentos bonitos a gente guarda, lembra, relembra, comenta. Mas a gente sempre segue em frente, sempre é obrigado a seguir. Claro que no começo dói perder amores, perder amigos. Claro que a alma fica sem um pedaço - e fica sem esse pedaço para sempre. Mas depois a gente cobre o pedaço com um pano, e segue em frente. O pano às vezes escorrega um pouco, deixando a ferida à mostra. As lágrimas caem nessas horas. Mas a gente vive. O pano volta ao seu lugar. Na verdade ninguém aqui precisa de ninguém para se manter respirando - apenas do ar, que nem ser vivo é. Então relaxa. Eu sei que agora deve estar te matando. A vontade de desistir deve estar grande. Mas você está seguindo. As lembranças estão fortes, mas logo tudo passa. Fica apenas a nostalgia pelos momentos bons. Por mais clichê que seja, os machucados interiores até se assemelham aos machucados físicos - no começo dói, arde, machuca, inflama. No começo a gente morre de dor. Mas depois vai passando. Sempre fica uma cicatriz - se não na pele, na mente, pela lembrança do momento. E com os sentimentos também é assim. O machucado exterior não te impede de viver, não é mesmo? Pois é. O interior também não. Eu sei que agora dói, e dói muito, mas tenho uma notícia boa: depois a dor passa, e vira só saudade boa. Logo logo as lágrimas se transformam em sorrisos saudosos. E você? Segue em frente.

(Letícia Loureiro)

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Profundamente

"Te olho nos olhos e você reclama que te olho muito profundamente. Desculpa, tudo que vivi foi profundamente. Eu te ensinei quem sou, e você foi me tirando os espaços entre os abraços. Guarda-me apenas uma fresta. Eu que sempre fui livre, não importava o que os outros dissessem. Até onde posso ir para te resgatar?

Reclama de mim, como se houvesse a possibilidade de me inventar de novo. Desculpa se te olho profundamente, rente à pele, a ponto de ver seus ancestrais nos seus traços. A ponto de ver a estrada, muito antes dos seus passos.

Eu não vou separar as minhas vitórias dos meus fracassos! Eu não vou renunciar a mim, nenhuma parte, nenhum pedaço do meu ser vibrante, errante, sujo, livre, quente. Eu quero estar viva e permanecer te olhando profundamente."

(Ana Carolina)