"De poupar. De guardar. De se esconder, de se proteger, de não se valer. Detesto a falta de empolgação de quem diz “oi” e “tchau” quase ao mesmo tempo. Acho de uma covardia intraduzível quem esconde as palavras e os sentimentos lá no fundo pra não se machucar.
Deve ser por que sou do tipo que mete a cara. Que mergulha, se afoga, se fere e se recompõe – mas não deixa de ser quem é nem por um minuto. Porque prefere ser julgado a ter que se omitir. É por isso que eu gosto de quem se mostra inteiro e permite que eu faça o mesmo.
Não me surpreende, também, que este adorado adjetivo - verborragia - (...) seja considerado uma patologia, seja empregado pejorativamente. Seja confundido, comumente, com tagarelice. Dane-se, eu amo mesmo assim – aliás, tudo o que amo nesta vida tem um quê de loucura e esquisitice.
Sem tentar, nem por um minuto, ser técnico, arrisco dizer que os verborrágicos são diferentes dos tagarelas, e diferentes pra melhor, por assim dizer: não me refiro ao que fala sem parar, sem filtro e sem bom senso. Não. O verborrágico fala muito e fala o necessário. Fala o que sente, o que pensa, o que o outro precisa ouvir. Fala com os instintos e com o coração. O verborrágico ao qual me refiro é aquele que não tem medo de se cuspir pela boca. De dar vazão à alma através dos verbos. É o que te abraça com dezenas de sílabas. É quem não tem medo de se traduzir. É o que se dá ao luxo de se mostrar em um mundo em que cada palavra pesa contra você."
- Nathali Macedo