terça-feira, 8 de novembro de 2016

Ninguém é obrigado a gostar de você

"É isso mesmo. As pessoas têm zero obrigação de gostar da gente, muito menos de querer a gente por perto. A gente tem muita dificuldade em lidar com a rejeição, né? E tá piorando. Acho que começa na infância… quando algum colega briga com a gente ou não deixa a gente andar junto ou qualquer coisa do tipo, a tendência dos nossos pais é dizer que aquela pessoa é boba, que ela não merece nossa amizade, que ela é chata ou qualquer outra variação de adjetivo que exclua a verdade: ela simplesmente não gosta de você. As pessoas podem ser boas, divertidas, legais e inteligentes e têm todo o direito de simplesmente não quererem você por perto. Tá tudo bem, você não precisa agradar todo mundo, mas de alguma forma isso é um tabu na infância e as pessoas crescem buscando aceitação e se frustrando com a rejeição.

As redes sociais pioraram tudo. Até aplicativo pra descobrir quem parou de seguir você existe. É uma obsessão por ser aprovado desde de sempre e a tecnologia veio só deixar isso ainda pior. Se a pessoa leu e não quis te responder? Sim, a internet também mostra! As pessoas podem até estarem loucas para acabar um relacionamento, mas se o outro toma a atitude primeiro, o ego ferido de não ser mais desejado fala tão alto que a pessoa até se confunde achando que agora até quer o outro de novo. Isso complica nossa vida, isso complica nossos relacionamentos e isso leva milhares de pessoas a consultórios. As pessoas tomam remédio pra lidar com a dor do não-ser-querido.



Simplifiquemos. Ninguém é obrigado a querer ninguém. E quem quer não é obrigado a sempre querer. Tá tudo bem… Quem já ouviu um “eu não gosto mais de você” sabe que não é a frase mais agradável do mundo, eu já ouvi uns anos atrás, mas foi depois dessa frase que eu parei minhas tentativas de dar certo com a pessoa que me disse essas palavras. Enquanto eu desconfiava que o relacionamento não ia bem por outras razões, tomei algumas providências, mas foi num almoço que ele olhou pra mim e disse que achava que não me queria mais porque não gostava mais de mim. Diante disso, tudo clareou, não tinha mais nada a ser feito. Eu não podia pedir pra ele gostar de mim de novo… isso não se pede. Ele gostou, não gostava mais, cabia a mim pagar meu risoto de camarão e ir pra casa lidar com esse fato.

Alguém não gostar de você não faz de você uma pessoa pior e quem não gosta de você também não é uma pessoa ruim por isso. Gostar tem que ser genuíno, tem que vir naturalmente, tem que ser leve, tem que ser suave. Gostar de alguém e esse alguém gostar de você é tão bonito, não vamos deixar isso feio e pesado transformando em obrigação. Reciprocidade é loteria! Aproveite enquanto ela existe, pode ser que acabe amanhã, pode ser que dure pra sempre, mas a gente não sabe…. então aproveite o bem-me-quer enquanto está no auge, quando vira mal-me-quer não há nada a ser feito. Isso vale pra namorados(as), amigos e até familiares, ninguém é obrigado a gostar de ninguém.

Não deixe que a reprovação de uma pessoa abale o que você pensa sobre si mesmo, não tente ser o que o outro quer, não sofra mais que o necessário. Você é incrível em todas as suas maneiras, mesmo que nem todo mundo que você quer, veja isso. Não diminua o tamanho de uma pessoa porque ela não te aprova, cada ser humano é singular e nenhum escolhe pelo quê o por quem seu coração se alegra, respeite a programação natural de cada pessoa e quando gostar de alguém que também gosta de você, agradeça."

- Hariana Meinke

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Me deixa quietinho?

"Hoje eu quero ficar quietinho. Sei lá, me deixa no meu quarto, na minha casa, no meu mundo, no meu interminável fim de segunda-feira. Não me pergunte se aconteceu algo, se eu gostaria de sair ou se já terminei de ver aquela série. Eu sei, parece estranho. E é. Mas depois eu te explico.

Eles não sabem, mas não é porque repentinamente quero ficar em silêncio que eu esteja chateado com algo. Muito menos queira me pendurar no parapeito do prédio. Juro. Acontece que o silêncio é a minha música nos dias tempestivos. É um tempo precioso que uso para organizar o que a rotina e as pequenas tristezas desorganizam dentro de mim.

Eu tenho o meu tempo, meus costumes, meu ritmo. Gosto de acordar devagar e pensar nas possibilidades do dia ainda na cama, por isso demoro para levantar. Gosto de ficar em silêncio sem motivos explicáveis, preciso me livrar dos excessos que acumulo durante o dia. Gosto de ficar sozinho e conversar comigo como se fosse a coisa mais normal do mundo. Ah, e detesto trabalhar com alguém atrás de mim! Ver alguém me observando pelo reflexo do computador, então? Torturante.



Quando alguém me pergunta, na maioria das vezes pessoas presas num tédio sem fim, o que eu faria se tivesse somente mais uma semana de vida, eu respondo, sem hesitar e sem dúvidas: ficaria na minha casa. Não sei, mas, para mim, chegar na minha casa e abraçar o silêncio que ali se faz é um presente especial. Se um dia eu for apaixonado por alguém como sou pela minha casa, será um caso de eternidade. Eu gosto dos meus abajures, que, convenhamos, criam todo o charme-luz de uma casa. Eu gosto da minha cama que ainda faz barulho do ranger da madeira enquanto me mexo, do meu cachorro que late por qualquer coisa e eu sempre acho que são espíritos, dos meus talheres que comprei no R$ 1,99 e se desencaixam enquanto estou comendo, da minha televisão de tubo que tenho na cozinha… é tudo tão meu.

Às vezes acho que eu gosto da solidão e do silêncio mais do que deveria. E aí me bate aquele medo gigantesco de nunca mais conseguir dividir esses meus momentos de silêncio com mais ninguém. Pois esse momento é tão meu, mas tão meu, que dividir ele com alguém me assusta… e aí convivo com aquele eterno conflito interno de amar loucamente a solidão, mas morrer de medo de morrer sozinho.

Ficar em silêncio não é somente se desvencilhar das palavras, mas uma metáfora para a solidão. Ficar em silêncio é ficar sozinho ouvindo uma música, é abrir a janela com intuito de ouvir os carros passarem, fazer uma janta gostosa na companhia única das nossas mãos desastradas, caminhar no parque, surfar, dizer um te amo num profundo diálogo com o teto, pois não temos mais tempo de dizer diretamente para a pessoa… O silêncio é sempre uma conversa com a nossa parte mais madura.

Mesmo ouvindo com frequência que sou estranho ao optar pelo silêncio sem aviso prévio, eu gosto dos meus momentos de quietude, das minhas manias de solidão e da alegria que sinto quando tenho alguns minutos de paz durante o dia. Espero que um dia alguém também goste, caso contrário, haja diálogos com o teto do meu quarto… Sim, diálogos, o meu teto me responde, o seu, não?"

- Frederico Elboni