quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Eu também existo quando você não está solitário ou com tesão

"– Sumido.
– Opa!
– Tá em casa?
– Onde vc tá?

Quando o celular apita e uma dessas mensagens chega, eu já sei de quem é e o que a pessoa quer. E a culpa é minha por elas insistirem em chegar. Eu deixei que elas chegassem, eu respondi muitas delas, eu achava que queria a mesma coisa.

Mas, nas últimas vezes, minha certeza foi diminuindo. “Quero mesmo?”, pensava quando via a mensagem. “O que eu estou fazendo?”, indagava enquanto estava dentro do táxi ou arrumando minha casa. E minha reação quando tudo acabava confirmava que eu não queria e que eu não sabia o que estava fazendo: eu simplesmente ia ouvir música ou ver televisão, ficava inquieto querendo ir embora ou expulsar a pessoa daqui. Por poucos minutos de prazer, esquecia quem eu era. E no fim, quando eu lembrava, já era tarde demais.



Sexo eu tenho daqui até a China e com pessoas que eu até acho muito gostosas, atraentes, e boas de cama. Alguém pra me dar a mão num filme de terror, não. Alguém que comprou um chocolate por ter lembrado que era meu favorito quando viu ele na fila do mercado, não. Alguém que queira saber de verdade como foi o meu dia, não. Alguém que saiba qual meu gosto em música, não. Alguém que queira conversar sobre reencarnação de madrugada bebendo vinho, não. Alguém que compartilhe e me faça compartilhar, não. Alguém que se arrisque ao me ver me arriscar, não. Alguém que me ouça e me dê palpites, não. Alguém que me ame por tudo que sou e não só por algumas partes de mim, não.

Talvez você não saiba, imagine, ou nem pense nisso, mas eu também existo quando você não está solitário ou com tesão."

- Gabriel KDT

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