"Oi, Rafa!
Se ex é aquele que antecede, sou seu ex então. Não sei escrever tão bem quanto você, mas vou tentar. Talvez por isso que eu só tenha te escrito uma carta em 2012. Enquanto você me mandou pelo menos dez. Tenho todas ainda. Teu e-mail foi uma porrada na minha cara. Nocaute. Eu sabia que tinha te machucado, mas não sabia a gravidade. Vi que você postou o e-mail nas redes sociais. Bombou. Obrigado por não ter divulgado o meu nome. Seria uma boa vingança. Tava na padaria tomando um café e vi um casal falando sobre o e-mail. Abri o Facebook e vi alguns amigos compartilhando o texto. Será que sabiam que você estava falando de mim? Não sei. Quase 3 anos se passaram.
Eu não sou mais aquele que fugiu sem prestar socorro. Você não é mais aquele que foi destruído. Amadurecemos. Algumas coisas precisam ser levadas em consideração. Eu tinha acabado de "me assumir" gay. Você foi o meu primeiro namorado. Era tudo muito novo pra mim. Caí em tentação. Eva também caiu. Cauã Reymond, Kristen Stewart, Brad Pit. Maria, Pedro, José, Ana. Nada justifica, eu sei. Mas somos humanos e estamos sujeitos. "Errar é humano". Já ouviu falar? Você tão inteligente. Já formado. Com um emprego incrível. Mil projetos engatilhados. Cheio de amigos legais. Um cara tão forte. Promissor. E eu? O que eu era naquela época? Um estudante. Com um emprego ruim. Trabalhava pra pagar os estudos. Poucos amigos. Incrivelmente seguro, eu? Toda a minha segurança era simulada. Sempre me senti inferior a você. O que esse cara está fazendo ao meu lado? Eu pensava. Você inflava meu ego com tanto amor. Você me chamava de "incrível", "inteligente", de "especial". Embora eu me considerasse um grande nada. O que esse cara tem na cabeça? O que ele está vendo em mim? Alguém avisa pra ele que eu não sou tudo isso?
Você criou expectativas demais em cima de mim. Eu nunca fui tão bom quanto você pensava. Ok. Você fazia eu me sentir incrível. Você fazia eu me sentir inteligente. Você fazia eu me sentir especial. Mas aí tive que fingir ser tudo isso. Fingi pra que você continuasse achando. E pra que pudéssemos ficar juntos. Pra sempre, talvez. Fingi. Até cansar de fingir. E fui embora. Eu sempre achei que você ficaria bem caso eu partisse. Ele vai conhecer alguém melhor do que eu em questão de dias. Nunca pensei que poderia te causar tanta dor (mesmo). Tudo bem, eu poderia apenas ter terminado. Mas eu te traí. E você descobriu. Ou eu poderia nem ter terminado e ter tido uma história feliz ao teu lado. Mas a minha síndrome de inferioridade não permitiu. Eu lembro que fiquei paralisado quando você me pegou no flagra. Eu não consegui ir atrás de você pra te pedir desculpas. O teu silêncio e o teu olhar berraram tão alto que eu fiquei imóvel. O teu olhar naquela noite, lembro até hoje. Foi como se você tivesse me dito tudo o que gostaria de dizer.
Apenas com o olhar. Telepatia. Eu entendi ali que tudo tinha acabado. E pensei: "Ele vai ficar bem". Você pode achar que eu não sofri. Mas eu sofri, sim. Chorei no meu quarto por ter sido tão babaca contigo. Você não merecia passar por isso. Logo você que sempre me deu tanto amor. E motivos pra sorrir. Voltei a viver. Achava que você logo ficaria bem. Que você encontraria alguém a sua altura. Conheci outro cara. Comecei a namorar. E olha a vida sendo vida: fui traído. Peguei mensagens no celular dele. E foi um soco no estômago. Sofri bastante. Quem bate, esquece, quem apanha, não. Me joguei na balada e peguei geral. Numa dessas noites me disseram que você estava por lá. Fiquei com um cara e parece que você viu. Eu jamais imaginei que você ainda se importasse comigo. "Esse cara não deve nem querer saber que eu existo." "Deve ter vergonha de ter namorado comigo." Ou simplesmente não pensei nada. Eu estava vivendo a minha vida ao estilo "deixa a vida me levar". Eu parei de medir os meus atos e sem freio fui seguindo.
Um dia sozinho no meu quarto eu comecei a ler as cartas que você me enviou quando namorávamos. E bateu uma saudade muito grande. Saudade de ser amado. Amado de verdade. Liguei pra você pra perguntar sobre o meu óculos. Que na verdade sempre esteve comigo. Foi só um pretexto pra ouvir tua voz. Um pretexto pra dizer que estava com saudades. Um pretexto pra pedir desculpas. Um pretexto pra dizer: "volta pra mim". Mas quando eu ouvi a sua voz eu travei. Não consegui dizer nada. E desliguei. E voltei a namorar. Sem muito critério. As coisas já não eram mais novidade pra mim. Eu só queria encontrar alguém, começar a namorar e recomeçar a minha vida. Novamente levei um tapa na cara da vida. O cara que eu comecei a namorar veio com um papo de "diferenças culturais". Disse que era bom demais pra mim. E me deu um grande pé-na-bunda. Doeu. Lembrei de nós dois. Das nossas diferenças. E do amor que você tinha por mim, ainda assim. Você gostava de mim assim, do jeito que eu sou. Senti saudades.
Fui pra balada e te reencontrei por lá. Acompanhado. Namorando. Você estava tão lindo. Você estava tão vivo. E eu já estava destruído. Com o coração destruído. E eu te procurei. E pedi pra voltar. Levei quase três anos pra te pedir desculpas. Antes tarde do que nunca. Não é mesmo? E recebi o seu e-mail com aquela resposta. Que me fez entender toda a situação. Às vezes a gente não tem ideia do poder dos nossos atos. Às vezes o amor fere, mas às vezes ele cura. Eu poderia simplesmente ignorar o seu e-mail. Poderia ficar bem e ser feliz. Poderia aproveitar ao máximo. Com verdade. Uma vida de verdade. Um amor de verdade. Pra não ter uma vida vazia. Mas me dei conta que quero viver com você esse amor de verdade. Essa vida de verdade. Vazia a minha vida já está. E só você pode preencher. Pode parecer pretensão da minha parte. Mas se você escreveu aquele e-mail com tanto sentimento e com tanta verdade. É porque ainda sente. Ainda ama. E se esse for o caso, eu vou estar aqui te esperando. Pra gente recomeçar. Recomeçar do zero. Pra mostrar que tudo na vida tem um tempo certo. E talvez o nosso tempo seja agora.
Um beijo.
Te amo."
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