sábado, 3 de dezembro de 2016

A Tréplica

"Era 21 de dezembro de 2012. Sexta-feira. Dia em que o mundo iria acabar. Você trabalhava das 14h às 22h. Enquanto eu trabalhava das 08h às 17h Passamos o dia inteiro trocando mensagens. Em alguns momentos eu notei um certo distanciamento da tua parte. Mensagens secas. Eu questionei e você disse que não estava muito bem. Mal estar. Talvez gripe ou virose. Eu pedi pra cuidar de você, mas você respondeu que queria e precisava descansar. Que depois do trabalho você iria pra casa dormir e que nos veríamos no dia seguinte. Em sete meses de namoro nós nunca havíamos ficado longe um do outro numa sexta-feira. Fiquei preocupado com você. Lembrei do dia em que eu estava com febre de 40 graus e ainda assim fui te encontrar. Até melhorei quando te vi. Mas você foi enfático. Queria descansar. Sozinho. Às 22h você foi pra casa. E eu já estava na minha. De banho tomado. Deitado na cama. Esperando por notícias suas. Você me mandou a seguinte mensagem: "Amor, tô muito cansado e indisposto, vou dormir. Nos falamos amanhã, te amo." Eu tinha a impressão de que era capaz de dar a minha vida pela tua. Saber que você não estava bem me fazia mal. Eu tomava as suas dores. E me preocupava com você, mais do que comigo mesmo. Falta de amor próprio da minha parte? Excesso de amor por você? Não sei. Mas eu gostava de me sentir assim. Gostava de te amar.

23h. Minha melhor amiga me ligou:
- "Rafa, tudo bem?”.
- "Tudo bem" Respondi.
- “Você e o Nando estão bem”? Ela perguntou num tom aflito.
- "O Nando está em casa dormindo, está com virose.”.
Comecei a achar aquela ligação muito estranha.
- "Camila, está acontecendo alguma coisa?”.
Perguntei desconfiadíssimo. Embora sejamos melhores amigos, a Camila poucas vezes me ligou, geralmente conversamos por mensagens.
- "Rafa, estou vendo o Nando na fila da balada. E ele está acompanhado de mais três amigos.”.

Senti um frio na barriga. Meu corpo ficou mole. Me senti trêmulo. E emudeci por alguns segundos.
Fiquei em silêncio até retomar o fôlego.
- "Camila, você deve estar confundindo, não deve ser ele.”.
- "Rafa, eu tenho certeza que é ele." Ela respondeu num tom cuidadoso, dava pra sentir a pena que ela já estava sentindo de mim.
- "Ele já te viu?" Perguntei.
- "Ainda não me viu, mas pensei em ir falar com ele".
- "Não!" Eu gritei e continuei:
- "Não deixa ele te ver, eu vou até aí pra verificar o que está acontecendo.

Peguei o endereço e comecei a me arrumar. Eu queria acreditar que tudo era um grande engano. Ou talvez uma surpresa do Nando pra mim. Será que ele vai me pedir em casamento? Será que é uma festa surpresa que eles prepararam pra mim? Cheguei até a soltar alguns risinhos, de nervoso. É uma surpresa. Deve ser. Tem que ser. Pobre de mim. Quanta ingenuidade. Fui dirigindo até a balada num misto de desespero e agonia. Tensão. Quando cheguei na frente da balada já não existia mais fila. A Camila estava lá na frente me esperando. Amigo, fica calmo", disse ela desesperada. "Camila, isso é algum tipo de brincadeira?", perguntei aflito. “Não é”. Mas fica calmo que não deve ser nada demais. NADA DEMAIS? Meu namorado estava dentro de uma balada enquanto me disse que estava doente, dormindo, em casa. Entramos na balada.

Fomos logo procurá-lo. Balada cheia. Almas vazias. Procurei. Procurei. Procurei. Até encontrar. Você estava beijando um cara. Fiquei em estado de choque. Uma dor no peito tão forte que até hoje não sei descrever. Gelou tudo dentro de mim. Um frio na espinha assustador. Meus olhos encheram de lágrima. E desaguaram. Fiquei estático. Assisti de camarote aquele beijo. Reconheci o garoto. Era aquele seu colega de trabalho que curtia as suas fotos no facebook. E que quando eu sentia ciúmes você dizia: “Ele é só um colega de trabalho qualquer”. Assisti aquele beijo até o fim. Quando vocês interromperam o beijo você estava sorrindo. Feliz. Gargalhando. Olhou pro lado e nossos olhos se encontraram. Você congelou me olhando. Parecia uma cena de encerramento de "avenida brasil". Você também ficou estático. O sorriso do teu rosto foi desparecendo lentamente. Você nunca imaginou que eu fosse aparecer ali. Olhei dentro dos teus olhos. E tentei te mostrar toda a minha dor.

Os meus olhos falaram por mim. Telepatia. Eu sentia meu coração sangrar. A maior decepção da minha vida. Acontecendo ali. Na minha frente. Virei às costas e fui embora. Desabei em choro. A Camila tentou vir atrás de mim, mas eu corri. Peguei meu carro e voltei pra casa. Não sei como cheguei. Só lembro de ter desaguado todas as lágrimas que existiam dentro de mim. Chorei tanto em cima da minha cama. Chorei até apagar.

21 de dezembro. O mundo acabando dentro de mim. Acordei no dia seguinte com a sua imagem beijando outro cara. Me senti acordando em cima de uma maca de hospital. Atropelado. Entre a vida e a morte. Esperei encontrar algumas mensagens ou ligações suas no meu celular. Mas não havia. A Camila me mandou infinitas mensagens, preocupada comigo. Coitadinha. Minha amiga fiel foi tão corajosa em me contar. Os dias que se procederam foram de uma grande espera. Por um pedido de desculpas. Por uma explicação. Por uma justificativa. E o dias se tornaram semanas. As semanas se tornaram meses. Os meses se tornaram anos. E a justificativa nunca veio. O pedido de desculpas também não. Até você me reencontrar.



Acompanhado. Namorando. Na mesma balada que você me traiu. Só que agora sem choro. Sem tristeza. Sem decepção. Feliz. Encontrei um cara legal, que cuidou de mim no ápice da minha fragilidade. Encontrei alguém que me ama por inteiro. Que não finge. Que não se acha melhor nem pior. Se vê igual. Nos vemos como iguais. Você pediu desculpas. E pediu pra voltar. Quase três anos depois. Sim, antes tarde do que nunca. Justificou a traição. Disse que se sentia inferior a mim. Sendo que eu sempre te coloquei pra cima. Eu fazia você se sentir o cara mais incrível do mundo. Você mesmo me dizia isso. Se de fato esse foi o motivo pra você ter me traído: Então você realmente era inferior.

Inferior ao amor que eu sentia. Inferior aos meus sentimentos. Inferior aos meus planos de casar e viver contigo pra sempre. Inferior às promessas que você me fez. Inferior a todo o meu sofrimento. Inferior à força e coragem que eu tinha de enfrentar o mundo inteiro e passar por cima de todo e qualquer preconceito. Inferior. Mas quem sou eu pra te julgar? Tá desculpado. Segue em frente e seja feliz. Viva de verdade. Encontre um amor. Aquele amor de verdade que um dia eu te dei. O meu perdão você tem. Mas o meu amor não tem mais.

Adeus."

- Rafael Koerich

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